28 maio, 2006

Àquele olhar

Se por acaso o encontrei
Se por acaso me apaixonei
Não pelo toque, nem os abraços
Mas o brilho e a paz do seu olhar


Um não sei do quê emudecer
Um calor confortante de felicidade
A retina mais que azul comigo nos céus
Os cílios tímidos que tocam a face rosada

Um olhar fixo na lembrança
A busca incessante de reencontrá-lo
A descoberta do horizonte além das águas
A alma aberta, quase enxuta de um olhar que vejo que não será mais do que por acaso

16 maio, 2006

Lembranças de uma Infância

Trauma
Miscelânea
Persegue e te acalma
Quando menina, quando criança
Assim vive sem a alma
Casinha de boneca,
Panela, fogaozinho
Põe o leite na caneca
Leva pra teu sinhozinho
Todo dia de manhã
O leite, a cabrinha
Todo dia de manhã
O cabresto, a covardia
Cuida dos brinquedos
Guarda os trapos da bonequinha
Cobre aqueles seios
Dá infância pra negrinha
Brinca de roda, dança
Foge da cabala
Arruma-te, faz as tranças
Terá festa na senzala
Mas isso se não fosse...
Os abusos, a escravidão
Se fosse da negrinha a posse...
da alforria, da libertação
Era de noite na casa grande
a surra, a humilhação
O batuque, aquela maldade
A menina numa prisão
Todo dia a agonia,
o talhe do patrão
Fugia sempre pra coxia...
do açoite, logo a sofreguidão
Lembranças no corpo quente...
a tristeza da pele nua
As raízes já não mais sente...
a saudade, uma alma crua
Que história a bonequinha!
Que história tem a contar?
Faz- de- conta de menininha...
ou as feridas por revelar?
Passado de vazio
Dorme e sonha no sonhar
Mas o sonho infantil...
Perde-se no acordar
Poesia vencedora do Concurso Em Busca de Novos Talentos da Faculdade Estácio de Sá em outubro de 2004.

01 maio, 2006

As nuvens vão e vêm como sonhos

Eu penso demais. Não sei porquê sou tão assim, sei lá. Não sei o que pensar! Pensar se você me entende. Pensar se você realmente existe. Escrevendo assim, torno-me um grão na vasta areia da praia. Aquela em que adoro me banhar e caminhar. Sabe por quê? Adoro sentir a brisa do mar no fim da tarde; o corpo suado do sol; as nuvens sobrevoando ao mesmo tempo e vez ou outra me descansando à sombra.
Então desse jeito, acho que você me entende. Sou um pouco dependente. Há gostos desse tipo assim. A vida é assim feita de coisas boas e ruins pra cada mente pensante.
Singular seja no ponto gustativo da língua ou no fraco do corpo. Eu...amo a praia, os soluços que o mar agitado faz. O sol me fortalece, o horizonte me transporta e o azul me leva aos céus.
Qualquer dia desses volto àquela praia nunca deixada, senão do que seriam as ondas sem minha chegada? Jamais se surpreenderiam e os soluços nunca cessariam...
Por isso escrevo, despejo lembranças de coisas ótimas já vividas ou ensejadas. O passado me traz referências para o futuro que planejo. Mas não sei se são tão válidas. Sonhos mudam conforme as nuvens, o soluço das ondas, o desenho da lua. Mudamos a cada segundo, sonhamos com a mudança.
Pulso, penso. Penso melhor sempre. Sou otimista. E que não haver de dizer um dia ser feliz? Assisto de cima. A tal ponto que esses meus parágrafos possam um dia preencher meu livro. Sim, porque um dos meus sonhos é escrever um livro no mínimo. Preencher o céu de tolices ou vocábulos de valia...talvez.
O importante é que as folhas percorram o mundo, conheçam os horizontes, passem da margem à esquerda do caderno...como as nuvens!
O importante é que me sinta as lendo, Despeje aqui palavras pensadas, ditas ou nem tanto assim...
Despeço-me nem sei pra quem. Choro os pingos secos de uma pequena ferida. No entanto me conforta saber que entendo minhas recentes dúvidas, desejos e angústias pertinentes.
Sou eu mesma aqui nua, me entregando às paredes cruas. E ao lençol que espera intacto os registros de um corpo inquieto que sonha acordado.

07/01/2006